quarta-feira, 30 de junho de 2010
Á minha mãe, Wânia Magnino Cardoso
Confluência talvez seja a palavra certa para descrever essa pessoa que tanto tenta se descrever em parágrafos.
Pérolas e tatuagens.
Caberia em duas mulheres de Cazuza: Mulher Vermelha e Menina Mimada.
Talvez sua condição de perdigree ainda te faz temer soltar sua alma de vira-lata que por tantas vezes saiu livre e fez notícia, ainda que com um pé atrás.
Seja em morro, na rua, em um hotel 5 estrelas, em chão batido ou de mármore, o salto está lá.
Bíblias e Rod Stewart, mãe coruja e eterna adolescente.
Confluência em salto alto.
Parabéns pela mais confluente estréia que ocorreu em 1964
quinta-feira, 24 de junho de 2010
Metades
Eduardo Baszczyn
Porque, há muito, eu erro a receita do equilíbrio. Uso a parte que não deveria na hora em que não poderia. Me confundo com as metades que brigam dentro de mim.
Porque parte acelera na estrada, no momento da curva fechada. Pé direito até o fim, enquanto outra freia, bruscamente, ao ver a primeira placa. Seta torta, avisando sobre o perigo.
Metade não suporta a burrice, a pequenez, a lerdeza. Outra, sempre calada, tolera a banalidade. Engole a ignorância. Convive com a mediocridade.
Há muito, eu erro a mão. A dose. Me confundo com o que devo usar. Porque metade briga. Explode. Dedo apontado na cara, enquanto outra se recolhe, quieta, debaixo da cama. No quarto fechado. No tudo escuro.
Metade berra. Outra sussurra.
Tenho uma parte que acredita em finais felizes. Em beijo antes dos créditos, enquanto outra acha que só se ama errado.
Tenho uma metade que mente, trai, engana. Outra que só conhece a verdade.
Uma parte que precisa de calor, carinho, pés com pés. Outra que sobrevive sozinha.
Metade auto-suficiente.
Mas, há muito, eu erro a mão. A dose. Esqueço a receita do equilíbrio. Me perco.
Há dias em que uso a metade que não poderia. Dias em que me arrependo de ter usado a que não gostaria.
Porque elas brigam dentro de mim, as metades. Há algumas mais fortes. Outras ferozes. Há partes quase indomáveis.
segunda-feira, 21 de junho de 2010
Outra história decadente do Evangelho da Prosperidade
O evangelho da prosperidade from iPródigo on Vimeo.
Eu poderia colocar a culpa na igreja corrompida exclusivamente no fato de um dia a igreja americana ter colocado as mãos nos conceitos luteranos, mas percebo que a disseminação do evangelho da prosperidade é uma questão que vai além de cultura ou antropologia, é questão de caráter.
Vejo os efeitos desse evangelho falho como uma manipulação psicológica que reflete na cultura mundial.
Nos países baixos como em muitos do continente africano, é inegável o crescimento das teorias da prosperidade em uma velocidade muito maior que em países de primeiro mundo, tudo isso devido a um falso caminho de esperança com vários pedágios no decorrer da estrada. Quando se vê os filhos com a barriga inchada por desnutrição enquanto sua dispensa está vazia e sabe que seus netos tendem a sofrer a mesma miséria, qualquer suposta "solução" em meio ao desespero é válida. Se alguém promete que seus filhos nunca mais vão sofrer e você nunca mais vai ficar uma semana se comer, e tudo com a garantia de um suposto "Deus", porque não acreditar? Porque não tentar ter essa esperança depois de já ter perdido tanto? Uma esperança falsa muito bem apresentada por casos isolados de testemunhos bem-sucedidos e contos mirabolantes de ex-miseráveis que agora possuem uma BMW em suas garagens. Junto a estas demonstrações de "riqueza pela fé", há manifestações de milagres e experiências supostamente divinas com Deus, que confortam ainda mais o psicológico dos futuros seguidores do Evangelho da Prosperidade.
Não acredito que toda manifestação espiritual nesses momentos seja falsa, porque só Deus sabe onde o coração de cada pessoa está naquele momento de clemência e eu creio em um Deus que se manifesta e conforta das mais diversas formas, mas jamais essa manifestação está presa a um "homem-testemunho ambulante", mas no coração que chora de cada pessoa que está puramente buscando um socorro, um suspiro final para suas vidas.
Minha vontade ao ver cenas de africanos entregando notas de dollar que poderiam alimentar seus filhos em troca de uma promessa humana com um falso carimbo divino, é de abraçar aquelas pessoas e falar que Deus é misericordia e graça, pra que peguem seu dinheiro de volta, comprem comida para seus filhos e acreditem em um Deus que conforta e ama independente de circunstancia, com uma graça literalmente gratuita adquirida em uma cruz a mais de 2000 anos atrás, um Deus que o papel não é dar uma BMW, mas que oferece alegria plena mesmo em meio a maior das misérias, uma prosperidade que vem de dentro pra fora e não de fora pra dentro. O verdadeiro sentido da palavra prosperidade, atribuída a José em Gênesis quando ele estava em um cárcere, longe dos privilégios considerados bênçãos por estes decadentes pregadores.
terça-feira, 15 de junho de 2010
Razão
Tenho uma ternura enorme por você — e para mim é muito difícil isolar essa ternura da razão. Mas de jeito nenhum quero, sei lá, ser irresponsável ou não medir as conseqüências dum negócio que pode ser muito sério.
Mas a verdade é que ainda não quero me prender a nada, a nenhum lugar, a ninguém — a não ser que isso pinte com muita força.
Tenho planos, claro (todo mundo tem). Mas objetivamente estou sem nada aqui à minha frente. O momento futuro é uma incógnita absoluta.
Endureci um pouco, desacreditei muito das coisas, sobretudo das pessoas e suas boas intenções. Dar um rolé em cima disso não vai ser nada fácil. E as marcas ficarão — tatuagens.
Procurei um rótulo para pacificar o sentimento, mas não o encontrei.
Ela gostava de estar com ele, ele gostava de estar com ela. Isso era tudo
Ando sentindo umas coisas que não entendo direito. Não gosto de não entender o que sinto. Não gosto de lidar com o que não conheço. Além disso, sou terrivelmente instável e entender as minhas reações é coisa que às vezes nem eu mesma consigo.
(trechos de Caio Fernando Abreu)
Mas a verdade é que ainda não quero me prender a nada, a nenhum lugar, a ninguém — a não ser que isso pinte com muita força.
Tenho planos, claro (todo mundo tem). Mas objetivamente estou sem nada aqui à minha frente. O momento futuro é uma incógnita absoluta.
Endureci um pouco, desacreditei muito das coisas, sobretudo das pessoas e suas boas intenções. Dar um rolé em cima disso não vai ser nada fácil. E as marcas ficarão — tatuagens.
Procurei um rótulo para pacificar o sentimento, mas não o encontrei.
Ela gostava de estar com ele, ele gostava de estar com ela. Isso era tudo
Ando sentindo umas coisas que não entendo direito. Não gosto de não entender o que sinto. Não gosto de lidar com o que não conheço. Além disso, sou terrivelmente instável e entender as minhas reações é coisa que às vezes nem eu mesma consigo.
(trechos de Caio Fernando Abreu)
segunda-feira, 14 de junho de 2010
Falso - Colligere
Você vai ouvir se eu te trouxer velhas coisas pra dizer de outra forma?
Tão nova quanto posso negar o passado...
Tento carregar o peso das palavras,
Trago aqui as idéias que me formaram,mas esta forma também pode criar novas escolhas.
Lendo os fatos, produzo conseqüências.
Posso criar uma nova leitura
E o verbo então se fará carne ou toda pele será como
espelho?
E a paixão de um novo modo pode brilhar sobre essas
palavras gastas?
Toque de novo, toque o refrão da música
que diz tudo o que você pensa
Estrago aqui as idéias que me formaram
Se mudar meu jeito de falar, você vai ouvir?
Colligere
Tão nova quanto posso negar o passado...
Tento carregar o peso das palavras,
Trago aqui as idéias que me formaram,mas esta forma também pode criar novas escolhas.
Lendo os fatos, produzo conseqüências.
Posso criar uma nova leitura
E o verbo então se fará carne ou toda pele será como
espelho?
E a paixão de um novo modo pode brilhar sobre essas
palavras gastas?
Toque de novo, toque o refrão da música
que diz tudo o que você pensa
Estrago aqui as idéias que me formaram
Se mudar meu jeito de falar, você vai ouvir?
Colligere
segunda-feira, 7 de junho de 2010
Mais uma carta de um profeta ferido
De todos estes porquês latejantes e incessantes que me fuzilam nos últimos dias, o que mais queima é a ânsia de querer entender porque as mãos que eu tanto precisava pra me levantar só estão me jogando pedras mais doloridas do que o tombo que eu levei.
A mesma mão que eu só queria que me desse um impulso para que eu ficasse de pé, deu um tapinha nas minhas costas e então escutei friamente: "não se aproxime de mim, não posso me assentar na mesa dos escarnecedores".
Me lembrei então, que quando eu me encaixava aos padrões bem formatados da instituíção "igreja", eu havia socorrido aquela mão que me deu aquele tapinha nas costas e que doeu mais do que um soco.
Tudo que eu que eu queria era que dentro do corpo que deveria ter o nome de igreja, receber os abraços que tenho recebido nas ruas. Eu queria encontrar ali mais alegria do que em garrafas.
Não quero mais escutar estes julgamentos cegos e surdos, não quero mais meus próprios erros (nos quais estou cansada de saber quais são) jogados na minha cara com aquela desculpa batida de que "eu tenho que encarar a verdade", se esqueceram que é a décima vez que vocês repetem a mesma coisa? Não quero escutar mais coisas que eu nem se quer fiz, suposições tão injustas baseada em imagens semelhantes ás travas dos olhos de quem me condena. Eu só queria amigos, irmãos, sustentos. Mas a mão que deveria me por de pé só me apunhala. E que gosto eu tenho de estar em meio á um tribunal tão sufocante?
É tão incrivel como supostos irmãos se tranformaram em frios juízes.
Vocês nem se quer me perguntaram antes de divulgar notícias tão decadentes de vidas que não são as suas. Vocês nem conheceram antes de traduzir o coração alheio de acordo com seus próprios achômetros falsos. Vocês colocam vendas nos meus olhos que cada vez mais me impedem de ver a Deus.
Vocês me sufocam num dicreto golpe farisáico.
Me sinto imóvel sem saber o que fazer com que essas línguas me afastem ainda mais de onde eu deveria estar.
Me sinto sendo expurgada do corpo pelo próprio corpo. Será que ninguém pensa que qualquer parte misúscula do organismo faz falta?
Sim, decadente igreja, eu só gostaria de ter irmãos, "irmão", essa palavra que vocês tanto gostam de falar sem nem saber o sentido. Eu queria que vocês fossem aqueles que eu poderia contar tudo sem ter que passar por um descrédito seguido de um descarte que me tornaria realmente inútil no lugar onde eu mais precisava agir. Eu queria que vocês fossem aqueles que sorrissem comigo.
Me fere essa falta de gosto por estar onde eu deveria, mas o que me resta?
Não quero mais passar por uma espécie de batida policial cada vez que eu chegar perto de "santos" e nem ser revistada na porta do culto. Não quero mais me lembrar daquele olhar insuportável de pastores que decidiram não ir com a minha cara, eles deveriam ser literais pastores, os que cuidam de mim, mas estão sendo lobos. Como posso confiar?
Diante de tudo isso, declaro meu estado de profeta ferido e imóvel. Sedento por ser útil, sedento por ser fixado, reparado e voltar a funcionar.
Será que ainda restam os reparadores?
ESCUTANDO:
> Entre o céu e o inferno
> Manobristas de Homens
A mesma mão que eu só queria que me desse um impulso para que eu ficasse de pé, deu um tapinha nas minhas costas e então escutei friamente: "não se aproxime de mim, não posso me assentar na mesa dos escarnecedores".
Me lembrei então, que quando eu me encaixava aos padrões bem formatados da instituíção "igreja", eu havia socorrido aquela mão que me deu aquele tapinha nas costas e que doeu mais do que um soco.
Tudo que eu que eu queria era que dentro do corpo que deveria ter o nome de igreja, receber os abraços que tenho recebido nas ruas. Eu queria encontrar ali mais alegria do que em garrafas.
Não quero mais escutar estes julgamentos cegos e surdos, não quero mais meus próprios erros (nos quais estou cansada de saber quais são) jogados na minha cara com aquela desculpa batida de que "eu tenho que encarar a verdade", se esqueceram que é a décima vez que vocês repetem a mesma coisa? Não quero escutar mais coisas que eu nem se quer fiz, suposições tão injustas baseada em imagens semelhantes ás travas dos olhos de quem me condena. Eu só queria amigos, irmãos, sustentos. Mas a mão que deveria me por de pé só me apunhala. E que gosto eu tenho de estar em meio á um tribunal tão sufocante?
É tão incrivel como supostos irmãos se tranformaram em frios juízes.
Vocês nem se quer me perguntaram antes de divulgar notícias tão decadentes de vidas que não são as suas. Vocês nem conheceram antes de traduzir o coração alheio de acordo com seus próprios achômetros falsos. Vocês colocam vendas nos meus olhos que cada vez mais me impedem de ver a Deus.
Vocês me sufocam num dicreto golpe farisáico.
Me sinto imóvel sem saber o que fazer com que essas línguas me afastem ainda mais de onde eu deveria estar.
Me sinto sendo expurgada do corpo pelo próprio corpo. Será que ninguém pensa que qualquer parte misúscula do organismo faz falta?
Sim, decadente igreja, eu só gostaria de ter irmãos, "irmão", essa palavra que vocês tanto gostam de falar sem nem saber o sentido. Eu queria que vocês fossem aqueles que eu poderia contar tudo sem ter que passar por um descrédito seguido de um descarte que me tornaria realmente inútil no lugar onde eu mais precisava agir. Eu queria que vocês fossem aqueles que sorrissem comigo.
Me fere essa falta de gosto por estar onde eu deveria, mas o que me resta?
Não quero mais passar por uma espécie de batida policial cada vez que eu chegar perto de "santos" e nem ser revistada na porta do culto. Não quero mais me lembrar daquele olhar insuportável de pastores que decidiram não ir com a minha cara, eles deveriam ser literais pastores, os que cuidam de mim, mas estão sendo lobos. Como posso confiar?
Diante de tudo isso, declaro meu estado de profeta ferido e imóvel. Sedento por ser útil, sedento por ser fixado, reparado e voltar a funcionar.
Será que ainda restam os reparadores?
ESCUTANDO:
> Entre o céu e o inferno
> Manobristas de Homens
Assinar:
Postagens (Atom)