sexta-feira, 7 de maio de 2010

Pós-traumático

Elaborado com trechos de Caio Fernando Abreu


Estou sendo muito honesto ao te contar essas coisas, poderia facilmente escondê-las: sei que me arrisco a te chocar, te ferir, te agredir.

Alguém lhe prometeu um reino certa vez, um reino de paz e amor, e você está esperando esse reino. Só nesse dia, quando o encantamento quebrar e o seu reino for revelado, só nesse dia todos vão saber que você sempre foi uma princesa.
Seria tão bom se pudéssemos nos relacionar sem que nenhum dos dois esperasse absolutamente nada, mas infelizmente nós, a gente, as pessoas, têm, temos - emoções.

Penso em você apesar de não sentir sua falta e muito menos sua presença. Penso em você porque sinto um vazio, que eu não sei do quê e nem por quê. Revelo, então, mais uma vez, minha estupidez, já que não é você quem vai me salvar e nem muito menos me catapultar pra uma dimensão mais tranquila e menos ansiosa de coisas que não têm nome.
Joguei sobre você tantos medos, tanta coisa travada, tanto medo de rejeição, tanta dor. Difícil explicar. Muitas coisas duras por dentro.

E tudo que eu andava fazendo e sendo eu não queria que você visse nem soubesse, mas depois de pensar isso me deu um desgosto porque fui percebendo que talvez eu não quisesse que você soubesse que eu era eu, e eu era.
Tão boa atriz que ninguém percebeu minha péssima atuação.
Quero ser o que eu sou, eu sou eu sou amor da cabeça aos pés. Pode agredir, quando chegar o Apocalipse é que a gente vai ver...

Eu dizia que "gostava" de você, que sentia saudade de você, que eu precisava de você, que eu "não conseguia viver sem você". Mas não era amor.
Na verdade eu não me impressiono com mais nada. E quer saber duma coisa? Se acabou mesmo dou a maior força. Acho maravilhoso ter acabado.

Disseste de repente que precisavas ter os pés na terra, porque se começasses a voar como eu, todas as coisas estariam perdidas.
Mas eu te ouvia dizer que sabias ser necessário fazer uma opção, e você fez sua opção, por comodidade, para não te mexeres daquele canto um pouco escuro e um pouco estreito, mas teu. Porque sabias também que em todos os de repentes eu estaria abrindo as asas sobre um desconhecido talvez intangível para ti.

Fantasiei. Até o último momento esperei que você me chamasse pelo telefone. Que você fosse ao aeroporto. Casablanca, última cena.
Derrepente me toquei: Ah, então foi pra ele que eu dei meu coração e tanto sofri? Amor é falta de QI, tenho cada vez mais certeza.

Resolvi ser equilibrista, não me apoiar em nada nem ninguém, sem muletas ou bengala. 'Danem-se', repeti olhando enfrentativa em volta.
Claro, é preciso julgar a si próprio com o máximo de rigidez, mas não sei se você concorda, as coisas por natureza já são tão duras para mim que não me acho no direito de endurecê-las ainda mais.

Não, você não sabe, você não sabe como tentei me interessar pelo desinteressantíssimo.

É dificil aprisionar os que tem asa.

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