sexta-feira, 9 de abril de 2010

Carta á Angústia



Queria que você parasse de fazer sentir meu peito abrindo, sem anestesia.
Essas agulhas que sinto entrando geladas estão começando a ficar insuportáveis.
Por hora penso que vou parar de respirar, ou simplesmente desejo que isso aconteça naturalmente, que em uma das minhas poucas noites de sono tranquilas eu não venha mais acordar. Esses poucos minutos de olhos fechados são meu bálsamo quando não vêm as imagens de um passado avassalador.
Trouxe-a pra mim com tanta inconsequência, com tanta verdade que era mentira, com tanta expectativa frustrada e navios queimados.
Ai angústia, você vem tão forte quando o dia de hoje me faz questionar se cada dia do ontem teve alguma verdade, quando me faz lembrar que tudo pode não ter passado de um festival de máscaras e que ao meu redor tudo que me arde é anulado tão facilmente e em mim continua a arder. Eu queria ter a velocidade de quem me sufoca para eliminar essas agulhas e a inveja dessa velocidade é o que mais me gela a boca e me trás o aperto tão forte acompanhado de dúvidas e insônias.
Você vem pra me lembrar que por mais uma vez eu me entreguei além e que nessa intensidade que vivo mora você.
Quem sabe se meus olhos fossem mais fechados e que aquela ingenuidade que me fez te trazer a tona viesse agora pra que eu tentasse enchergar tudo normalmente e sem dores. Porque essa ingenuidade vem quando é pra enganar mas não vem quando é pra me acalmar com uma venda?
Esse arrependimento em demasia não me deixa te expulsar daqui.
Queria que não me apertasse mais em cada descoberta da sequência da vida.
Eu realmente gostaria que você fosse embora e quem sabe fosse visitar alguém, porque só você pra fazer entender tanta coisa.
Sou extremamente egoísta e não queria essas farpas somente em mim, pelo menos para que eu tivesse a tranquilidade de reconhecer algum reconhecimento.
Por favor, vai embora. De tantas agulhas, vai chegar uma hora que não vai ter mais espaço.
Não me leve a mal, apenas visite mais alguém e leve adiante os olhos abertos que você me trouxe.

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