sábado, 3 de abril de 2010

Uma obra, com valor.



Um vaso que já se achava muito bonito, decide refazer-se para agradar a vontade do oleiro que já não se agradava mais das suas formas. Começa então a quebrar-se aos poucos, até que se quebra totalmente e começa a se refazer com muita dificuldade, num processo difícil e minucioso e que por muitas vezes tem que ser feito e desfeito vez após vez. Nesse processo, por várias vezes o vaso lembrava-se que já se achava tão bonito, porque ele estava passando por aquilo tudo? Pela vontade de fazer satisfeito o oleiro, oleiro que sempre queria um pouco mais de perfeição, e o vaso que apenas queria agradar o oleiro que ele tanto apreciava. Quando o vaso já estava quase ficando pronto, depois de tanto ter sido quebrado, refeito, desfeito e refeito outra vez, passado pelo fogo, e finalmente quando estava nos detalhes finais, na pintura, na finalização daquele processo tão dolorido, o oleiro resolve não esperar mais o término daquela obra tão árdua e compra um vaso pronto. Ele olhou e viu que era muito mais fácil ser imediato e que parecia não valer a pena esperar mais aquele vaso que tanto fez, tanto quebrou-se para agradar a ele.
O vaso, no processo final foi descartado e substituído por aquele aparentemente pronto.
Talvez o que mais doeu naquele vaso foi ver todo o seu esforço jogado fora. Tudo que ele tinha dado tudo pra ser, em outro vaso que nada fez pra conquistar. Todos os seus sonhos dados a outro, bem ali, na reta final.
O que o oleiro não sabia, é que com todo aquele esforço dolorido pelo qual o vaso tinha passado, ele formou formas e cores únicas, fruto de toda a experiência que aquele vaso que parece pronto, jamais vai ter. Todas as formas e cores, projetadas exclusivamente para aquele oleiro, reconhecidas com um tajeto enorme, que se adaptariam não somente as necessidades imediatistas do oleiro, mas que seria útil para ter um valor além, um valor extenso e honrável que só aquele que foi quebrado, refeito e passado pelo fogo, pode ter.
Talvez esse vaso agora, conclua-se, transforme-se em uma grande obra fruto de tanta história e quando o oleiro, depois de muito tempo, vê-lo em um belo lugar, nas mãos de um belo colecionador de vasos, aquela obra feita com formas e detalhes, projetadas com tanto esforço e dedicação á ele, ele veja que tenha perdido a obra mais preciosa de sua vida.

O que tem mais honra e valor? o que dá o a vida pra conseguir ou o comodismo pronto?

Nenhum comentário:

Postar um comentário