terça-feira, 4 de agosto de 2009

Carência, Um câncer do novo mundo

Fico impressionada com o tanto que as pessoas andam vivendo (conscientes ou não) em função de sustentar suas próprias carências, custe o que custar.
É fato que hoje a maior luta de grande parte dos seres humanos não é contra algo material, mas contra seu próprio coração, seu próprio vazio.

"Somos os filhos do meio da História da Humanidade, sem grandes propósitos, sem lugares. Nós não temos mais grandes guerras mundiais, nem grandes depressões. Nossa guerra é a guerra espiritual, e nossas depressões são o vácuo que transformamos nossas vidas." (Tyler Durden, Fight Club)

Gastam fortunas e fortunas em função de tentar colocar um bad-aid caríssimo em cima das próprias feridas abertas. Compram aventuras, paixões, prostitutas, amigos, wiskey, enfim, qualquer coisa que faça com que a convivência com a carência excessiva se torne ao menos...suportável. E aí vem a falsa sensação de alegria.
A mentira de uma suposta satisfação, que na verdade, não passa de uma venda, não passa de um curativo que faz as feridas ficarem menos visíveis e mentirmos pra nós mesmos que elas não estão mais lá, latejando, porém tampadas, só esperando o primeiro tombo, ou a primeira falha inevitável dos anestésicos acontecer.

Estamos em uma geração onde o órgão sexual não é mais um pênis ou uma vagina, é um carro, uma roupa de marca, uma bebida cara.

"A falta de liberdade não consiste jamais em estar segregado, e sim em estar em promiscuidade, pois o suplício inenarrável é não se poder estar sozinho."
(Fiodor Dostoievski)

Os relacionamentos deixaram de ser verdadeiros, não há mais a disposição de amar, e sim de ser amado, de se sentir amado e achamos que dessa forma estamos amando, quando na verdade, estamos apenas nos masturbando. Dizemos eu te amo para nosso objeto, e muitas vezes acabamos acreditando ou nos iludindo nessa mentira.
Na verdade, muitos amam apenas a si, e os supostos "eu te amos" são um instrumento para satisfação da sua carência, expressar algo que conforta apenas a si, na ilusão de que também está amando alguém de verdade.

"Somos uma geração fraca de Homens sendo criados por mulheres. É preciso e é verdadeiro se apegar emocionalmente a outra pessoa que precisamos para sermos felizes? Não há outros métodos?" (Tyler Durden, Fight Club)

Infelizmente, muitos não conseguem a felicidade consigo, não conseguem se satisfazerem sem usar uma cobaia. Constantemente vivem se entregando á pessoas-objetos de satisfação pessoal, uma atrás da outra em busca de uma cura.
O companheiro(a), o namorado(a), o(a) cônjuge se tornaram apenas míseros objetos de realização pessoal. É preciso escolher o de melhor marca ou o que mais alimenta seus enganos mal resolvidos para que assim, haja uma ilusão de realização, que não dura muito tempo.

Usamos pessoas e objetos (se é que há uma diferenciação de ambos) como drogas, viciantes. Viciamos nos nossos relacionamentos falsos, nas libertinagens e em coisas caras que aplicamos, sentimos o prazer, ficamos satisfeitos por um tempo, até que o efeito passa, o vazio volta, vem as consequências, e mesmo assim acabamos pedindo mais e nos alimentando mais dessas drogas de falsa plenitude.

Nos dizem para fazer tais faculdades, entrar em determinados empregos, gostarmos de certas músicas, nos comportarmos de uma certa forma pois assim seremos aceitos, assim conseguiremos mais fácil uma presa para sustentar nossas carências, assim faremos com que alguém se apaixone mais fácil pela nossa casca, assim vão nos "amar".
Precisamos pecar, precisamos tomar porre e passar de mão em mão, nessa chamada libertinagem que não passa de um moralismo e de regras de aceitação disfarçadas. Se tomarmos poucos goles não temos amigos, se não nos deliciarmos com uma bela presa somos condenados, e é isso a tal da liberdade?

Estamos presos, de fato. E não queremos nos soltar. Temos medo de choro, temos medo de sentir uma breve dor, temos medo de perder, medo de perder status, medo de ficar sozinhos. Medo de coisas fáceis de driblar, coisas temporárias, lições de vida, mas que precisa de coragem, e isso sim é difícil de encontrar em um mundo de covardes onde por causa dos medinhos fracos preferem se prender e deixar pessoas presas e subordinadas ás nossas próprias carências. Trocam a anestesia momentânea e mentirosa por uma cura, e a cura funciona como uma cirurgia de retirada de nódulos, o pós dói, fica dolorido por um breve momento, mas há a libertação.
E quem está disposto a se libertar?

"Será que não vou me libertar de suas regras rígidas?
Será que não vou me libertar de sua arte inteligente?
Será que não vou me libertar dos pecados e do perfeccionismo?
Digo: evolua, mesmo se você desmoronar por dentro."

(Fight Club)

Um comentário:

  1. Sensacional. Faltam-me palavras para comentar esse brilhante artigo. Citações perfeitas. Incrível interpretação da atual geração. Enfim, por mais que eu tente, jamais conseguirei expressar a minha admiração por tal mensagem.
    Atualmente, a mídia nos transmite um estilo de vida impraticável. Prazeres instantâneos, sucesso sem esforço e felicidade sem tristeza.
    Assim, como muitas pessoas não refletem sobre essa enorme quantidade de informações que lhes bombardeiam a todo momento, entregam-se a esse estilo de vida egoísta e impraticável e, quando acordam, percebem que já perderam muito tempo na vida. Repensam seus valores, arrependem-se de não ter se esforçado e notam a falsa realidade em que viveram. Esforçar para não ser medíocre? Ser medíocre sem se esforçar? Escolhem o caminho que demanda menos esforço.
    Por fim, não vou me alongar mais, porque tudo que escrevi e vou escrever até o final deste comentário não passará de uma ridícula tautologia do seu artigo.
    Parabéns de verdade. Muito bom saber que uma futura profissional de publicidade possui essa visão crítica da atual geração.

    Algo sobre mim: sou estudante de Direito (mais um dos) e me preocupo, sinceramente, com o futuro da atual famigerada "democracia". Com toda essa manipulação que sofremos, alguém ainda pode chamar isso de democracia? Só o tempo irá responder.

    Sucesso Amanda!

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