quinta-feira, 13 de agosto de 2009

trash glamour


"Onde terei jogado fora meu gosto e capacidade de escolher, minhas idiossincrasias tão pessoais, tão minhas que no rosto se espelhavam e cada gesto, cada olhar, cada vinco da roupa resumia uma estética?" Carlos Drummond de Andrade

Amanda não se classifica em nenhuma categoria, poderia ser até uma mescla de glamour trash e freak chic, mas ainda assim, seria limitado demais pra mim.

Muita gente olha pra alguém que gosta de moda, sabe usar os talheres, frequenta society parties e já julga como fútil. E comigo, não é diferente. Não nego a existância de muita (quem sabe a maioria) gente vazia em certos lugares. É um fato. Já escutei milhares de vezes pessoas me chamando de fútil sem ao menos me conhecer.
Aí eu penso, qual o conceito de futilidade na cabeça de alguns?

Não vou contar aqui toda a minha vida, mas eu nasci assim, fui criada assim.
Nasci com um nome que alguns vêem como perdigree, e com ele uma bagagem que vai me acompanhar por toda vida. Quem me conhece sabe, eu nunca fui de ostentar nadinha. Sou definitivamente sinônimo da palavra desastada e nunca gostei de quem vive em busca de status. Já pude ser patricinha, dizer-me herdeira, nariz em pé e tudo mais, principalmente na adolescencia, mas ao invés disso, preferi ser a garota diferente que tinha cara de rockeira na sexta série! Já tive uma breve fase de consumista, mas mesmo assim, nunca coloquei isso pra todo mundo ver. E na boa, não entendo de qual é a desse povo que coloca foto no Outback no orkut, (foto com cardápio no Outback = you are a looser), não sou uma garota-perdigree que ostenta fotos na Oscar Freire e em restaurantes caros. Mesmo que eu já tenha passado por estes lugares, sempre achei comum certas coisas para serem exibidas como toféus, e claro, acho desnessessário. Eu sou autenticamente eu em todo tipo de situação, não negocio minha personalidade, o que já é o suficiente para eu não ser uma pessoa "fútil". Eu sempre vivi o contrário do que idealizavam pra mim como garota-boneca e nunca quis viver estilo de vida das aspirantes a Paris Hilton, mesmo quando tive chance. E garanto que meu cérebro pensa e cria muito mais do que qualquer uma dessas mulheres-livro que apenas copiam conceitos e frases feitas, e com certeza, já assustei muita gente que me julgou sem conhecer.

Sobre meu gosto por moda, eu digo: gosto mesmo!
Não como essas garotinhas que leêm Capricho, pagam de Kate Moss, imitam (não criam) as famosas "trendy", copiam os visuais tendência (eu ODEIO tendências) e fazem um blogzinho precário com o que essas tendências também precárias dizem.
Vejo moda como arte, não como algo fútil.
Cresci no meio de moda e de pessoas bem vestidas e aprendi a adimirar isso. Aprendi ter um olhar que analisa. E creio que minha passagem pelo meio "underground" ajudou mais ainda a intensificar minha percepção e me fazer criar ainda mais e aumentar meu campo de visão sobre estilo. Acho que a forma com que alguém se veste ou sua percepção sobre isso dizem muito sobre a pessoa.
Com 11, 12 anos de idade eu já frequentava o Mercado Mundo Mix em São Paulo, quando tudo que é hype hoje em dia ainda era desconhecido e as marcas também hype (e caras) de hoje eram apenas iniciantes e baratas. Adorava ver a fila cheia de cyberpunks e clubbers (que na época era febre e eu jurava que era uma! haha), andar na Augusta e na Galeria Ouro Fino pra mim era a Disney!
Arte é a palavra certa. Vejo moda como um campo de criatividade e influência. Gosto de cirar, gosto de analisar, gosto de beleza (e de vê-la), e qual o mal nisso?
Gosto de fazer as pessoas ficarem bonitas.
Vejo um desfile não como a maioria que gosta de ver as modelos e acha que tudo aquilo é exagero por não saberem que existe "moda de passarela" e que os chamados "exageros" são mostras de recortes, cores e formas, só que aumentados e em forma de arte. Vejo como mostra artística, como mais uma evolução.
Tem gente que compra revistas caras de moda todo mês mas que não tem de fato o "feeling" da coisa, não têm um gosto, apenas copiam e acham bonito (porque é bonito mesmo).
Minhas milhares de críticas que muitos acham maldade ou soberba, na verdade, é porque eu realmente fico feliz em ver pessoas bonitas e tenho prazer em fazer com que pessoas fiquem bonitas. Me dá desespero mesmo ir no centro da cidade e ver aquele mundo de mulheres de calça de lycra vagabunda, blusa de barriga de fora com miçanga pendurada/estampa e salto de acrílico ou rasteirinha de microsalto. Vejo essas mulheres e penso como elas poderiam estar mais bonitas, se sentirem mais bonitas e fazer nossa cidade mais bonita. Viu? Não é maldade, é querer ser fada madrinha! haha! Porque vocês acham que todo mundo que vai á grandes cidades do mundo acham as pessoas lindas? Muitas vezes não é porque elas são de fato bonitas, mas estão bem-vestidas. O Brasil é onde mais tem mulher bonita no mundo, Uberlândia tem mulher bonita aos montes, mas dá tristeza ver muita beleza que poderia estar sendo destacada, sendo desvalorizada e escondida em peças decadentes!
Uma pessoa que aprecia moda de verdade não é fútil, dizer isso seria dizer que qualquer outro artista também é, é dizer que um apreciador de quadros é fútil, não tem nexo algum nisso. Não entendo porque um artista plástico é considerado culto e um estilista é considerado fútil. Muito prepotente e contraditório esse raciocínio.

E na boa, pra mim, ignorante é quem acha que precisa de ignorar a beleza. Acha que bonito é dizer "eu não me apego a coisas materiais", quando na verdade está apegado á conceitos de fato fúteis do que é ou não útil pra alguém. Ignorância é julgar precipitado. Ignorância é não querer ver tudo mais belo. Ignorância, recalque, e uma pontinha de infelicidade.

Bom, mas onde eu quero chegar com isso tudo, é que eu não vivo esse suposto "glamour-material" que alguns pensam que eu vivo. Eu simplesmente sou uma apreciadora da beleza, e que tá longe de ser uma boneca, na verdade, acho que sou totalmente transgressora do conceito boneca e é exatamente essa trangressão com personalidade e estilo próprio que eu vivo.


na foto: me and my friend Sirlei (www.sirlei.com), ontem, no coquetel de lançamento da terceira edição da revista Glass.

2 comentários:

  1. Um tapa na cara de quem não entende muito bem o sentido de tudo isso. rs
    Muitas vezes (99,9% dos casos) o preconceito é precedido de uma ignorância (muitas vezes velada)por algo. Acredito que a maior parte das pessoas "não sabe" que não entende o real significado da moda, da beleza. É muito fácil ter uma impressão errada sobre esse meio, essa arte. Talvez até por que, a maior parte das pessoas que a consomem, sejam da mesma forma, ignorantes. Não entendem o real valor do que consomem e, como você mesma disse, copiem compulsivamente. Mas, nem todos estão de verdade preparados para ter opinião. Isso significa arriscar-se, experimentar, testar....estou eu viajando aqui...rs
    Gostei do seu texto, me fez pensar sobre o assunto

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